domingo, 10 de março de 2013

Impacto das Multinacionais no Estado



Impacto das Multinacionais no Estado

Introdução

As empresas multinacionais são atores de grande importância nas relações internacionais contemporâneas.  Isso se deve ao seu poder econômico, tecnológico e conseqüentemente político.  Sua força está no seu papel na internacionalização da economia contemporânea por meio da produção e comercialização de diversos bens e serviços em diferentes países de forma dinâmica e integrada.
Inevitavelmente, a força das multinacionais gera forte impacto, e por vezes ameaça, aos Estados, em especial os periféricos.  O poder e capital de algumas empresas multinacionais no contexto internacional é, por vezes, maior de muitos Estados periféricos.  Entretanto, em diversos contextos a atuação das multinacionais é benéfica devido ao seu poder de gerar empregos, produzir e difundir tecnologia, movimentar a economia com dinamismo, produção de bens e serviços importantes para a sociedade como um todo.
O presente trabalho pretende fazer uma análise da relação entre as empresas multinacionais e os Estados nacionais.  Serão analisados os diversos enfoques teóricos existentes para a questão.

Desenvolvimento

As empresas multinacionais são vistas por alguns, como instituições positivas que vão além dos Estados nacionais, difundem a tecnologia e o desenvolvimento entre países em desenvolvimento e geram uma rede de interdependência entre os países.  Outros, por sua vez, consideram que as empresas multinacionais são predadoras imperialistas e geram uma rede de dependência política e subdesenvolvimento por onde passam.
As empresas multinacionais são atores com grande alcance por operarem em escala global.  Esses grupos ou tipo de empresa operam em pelo menos dois países e controlam uma quantidade relevante de ativos específicos (tecnologia, capital, capacidade gerencial, organização, mercadologia, entre outros) que são recursos importantes de poder econômico e político.  Trata-se, aqui, tanto das empresas que operam no setor industrial, no de serviços, no setor primário, no setor financeiro como os bancos e outras instituições financeiras não-bancárias.  As empresas multinacionais são negócios com orientação capitalista que buscam se redirecionar visando ao aproveitamento das melhores oportunidades existentes no mercado global.
Apesar dos temores e das esperanças as empresas multinacionais cada vez crescem mais.  Algumas dessas empresas são instituições extremamente poderosas com recursos superiores à maioria dos Estados que compõe as Nações Unidas.  Elas integram a economia internacional de forma extensa, geram integração da economia global e também interdependência comercial e financeira entre os Estados.  As empresas multinacionais são de grande relevância para sociedade e conseqüentemente para os Estados.  As multinacionais possibilitam a geração de emprego, desenvolvimento de tecnologia, crescimento econômico, investimentos,

existe muito pouca dúvida sobre a importância dos investimentos das empresas multinacionais no processo de geração de riquezas das nações-estado, como também do papel das nações-estado no sentido de oferecer infra-estrutura social e física para que os objetivos estratégicos das empresas multinacionais possam ser alcançados com sucesso.  O grau de dependência das empresas multinacionais nas políticas econômica das nações-estado pode ser visto como o resultado da combinação dos seguintes fatores: localização geográfica, acesso aos recursos naturais, tecnológicos e financeiros e relacionamento entre as políticas internas e externas dos países destino e origem dos investimentos.” (IGNÁCIO, 2007)

Segundo Gonçalves (2005) na história das relações internacionais há vários exemplos de relações estreitas entre empresas multinacionais e seus Estados de origem.  Essas relações significam que os Estados usam essas empresas como instrumento de influência econômica para que venha alcançar objetivos políticos.  As empresas, por sua vez, usam o Estado-nação, como instrumento político (inclusive militar) para atingir determinados interesses econômicos como o controle das fontes de matéria prima.  Dessa forma, o Estado usa um instrumento privado para alcançar um objetivo de interesse público, enquanto a empresa multinacional usa um instrumento público para atingir um interesse privado.  Essa relação não se restringe há setores que têm alguma relevância estratégica, como o petróleo, mas é particularmente evidente nesses setores.  Os Estados mais desenvolvidos industrial e tecnologicamente conseguem se reorganizar para lidar com as vantagens tecnológicas e econômicas das empresas multinacionais.
Há diversas abordagens teóricas de buscam explicarem o fenômeno da expansão das empresas multinacionais, mas nenhuma consegue explicar de forma completa.
Quanto à natureza oligopolista das multinacionais duas teorias se destacam.  A primeira é a teoria do ciclo do produto desenvolvida por Raymond Vernon.  Esta teoria busca explicar o motivo pelo qual um novo produto surge especificamente num determinado país, e que fatores contribuem para que, após esse produto atingir certo grau de desenvolvimento, a empresa que o produz tenda paulatinamente a localizar sua produção em outros países que não o de origem.  Assim, há em toda parte instalação de fábricas para produzir o mesmo produto. Segundo a teoria do ciclo do produto o investimento é integrado horizontalmente.  A segunda é a teoria da organização industrial baseada na integração vertical.  Essa teoria se aplica ao novo multinacionalismo onde os investimentos são verticalmente integrados, ou seja, a produção em algumas fábricas que serve de insumo para outras fábricas da mesma empresa. (GILPIN, 2002)
O crescimento das multinacionais de forma vertical tem obtido mais sucesso devido a três fatores. Primeiramente, a integração vertical das diversas fases do negócio possibilita a redução os custos envolvidos no processo produtivo.  As empresas buscam manter todos os aspectos da produção sobre seu controle.  Em segundo lugar, devido aos crescentes custos necessários a pesquisa e desenvolvimento as empresas buscam manter sobre o seu controle, por maior tempo possível, o monopólio na produção itens por elas desenvolvidos.  Em terceiro lugar,  devido à melhoria dos transportes e das comunicações  é possível a expansão dos negócios para outros países distantes.  Essa expansão leva ao predomínio de oligopólios da economia internacional nas economias nacionais por meio da formação de uma rede empresarial complexa e sofisticada.  A estratégia de integração vertical das empresas multinacionais consiste em distribuir as fases da produção em diversos países.  Essa estratégia visa aproveitar os custos de produção mais baixos e benefícios fiscais disponível nos países de industrialização recente.  Dessa forma, cresce o comércio intrafirma. (GILPIN, 2002)
O  crescimento  vertical  pode  representar  problemas  aos  países  hospedeiros, uma  vez  que,  abre-se  a possibilidade dos Estados nacionais usarem suas multinacionais para realizar seus objetivos de política externa.  Muitos setores da sociedade, como os sindicatos, consideram que o investimento externo direito como uma ameaça aos seus interesses.  Os países hospedeiros também temem que a atuação das empresas multinacionais possa ser prejudicial a seus próprios interesses econômicos, políticos ou de qualquer outra natureza.
O choque entre as empresas multinacionais e os países hospedeiros tem sido mais intenso nas economias desenvolvidas.  Críticos individuais e autoridades nacionais têm apresentado acusações contra a conduta das empresas internacionais, apresentam sua atuação como negativa aos interesses, ao bem-estar econômico e ao desenvolvimento do Estado hospedeiro.
As acusações levantadas contra as empresas multinacionais recaem sobre diversas categorias.  No ponto de vista econômico, os investimentos diretos estrangeiros são vistos como instrumento de distorção da economia e da natureza do desenvolvimento econômico dos países periféricos.  Alega-se que as multinacionais geram um desenvolvimento dependente, que não possibilita o desenvolvimento local.  As empresas multinacionais também são acusadas de inibir o desenvolvimento de tecnologia nacional.  Por serem incisivas em capital e tecnologia, as multinacionais geram desemprego e não possibilitam a transferência de tecnologia aos países menos desenvolvidos.  Além disso, muitos afirmam que o investimento direto estrangeiro agrava a má distribuição de renda e inibe o crescimento do empresariado local.
No ponto de vista político, as empresas multinacionais exigem dos governos locais, simpáticos ao capitalismo, o desenvolvimento dependente que estimula a criação de aliança entre o capitalismo internacional e as elites nacionais reacionárias. Dessa forma, os governos têm de ceder às exigências das multinacionais.  No ponto de vista cultural, a herança cultural das empresas estrangeiras se caracteriza por uma forma de imperialismo cultural, na qual os países em desenvolvimento perdem controle sobre a própria identidade cultural.  As empresas estrangeiras introduzem, por meio de publicidade, novos valores e demanda por novos produtos diferentes aos da cultura local.

O novo multinacionalismo

No ponto de vista do novo multinacionalismo o regime dos investimentos dos  internacionais está sendo moldado por negociações entre empresas individuais, governos de origem e governos hospedeiros.  O resultado dessa interação é uma estrutura complexa de relações entre as empresas e os governos que projeta para o futuro um novo tipo de relação.
A disputa entre os países por pelo capital e tecnologia é intensa. Os países menos desenvolvidos buscam diferenciar-se cada vez mais na sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros. A instabilidade política e econômica levou as multinacionais a diversificarem seus investimentos. A relutância cada maior dos banqueiros em emprestar aos países subdesenvolvidos devido as suas dívidas acumuladas. Com isso acentua-se a tendência de desenvolvimento desigual o que levou muitos países a recusar o acesso das multinacionais.
Nesse contexto, podemos observar algumas tendências: crescente importância dos investimentos diretos estrangeiros em especial os “verticais” (a produção é dividida por diversos países); expansão das alianças entre empresas de diferentes países; e importância dos intermediários fabricados de outros países. As empresas multinacionais passam a produzir-nos de industrialização recente devido as barriras tarifárias dos países avançados.
A racionalização global da produção internacional atribuiu importância crescente às alianças entre as multinacionais e os suprimentos estrangeiros. O papel dos países de industrialização recente cresce no processo de internacionalização da produção por meio de diversos mecanismos.
Os teóricos vêem o impacto das empresas multinacionais dos paises periféricos de diferentes perspectivas.  Os liberais, em geral, vêem as empresas multinacionais como uma forma de levar o crescimento econômico aos países periféricos.  A teoria da dependência, por sua vez, vê as empresas multinacionais como algo negativo.  Para os mercantilistas modernos o investimento direto estrangeiro realizado pelas empresas multinacionais pode ser uma forte fator modernizados, mas depende do contrapeso da indústria local e da supervisão do governo hospedeiro. (JACKSON, 2007)

Considerações Finais

As empresas multinacionais são atores de grande importância no contexto das relações internacionais e das economias nacionais.  Essas empresas atuam dentro da lógica capitalista e buscam maximizar o seu lucro por meio da internacionalização, buscam se estabelecer em países que lhes fornece maiores incentivos e isenções fiscais.  Com isso, gera-se uma realidade na qual os Estados devem buscar conduzir de forma a obter maiores benefícios.
Há muito receio de que as empresas multinacionais venham a diminuir o poder dos Estados e, por vezes, venham a ameaçar a sua sobre vivência.  Embora esse perigo seja real, a existência das multinacionais cada vez se consolida mais.  Os Estados hospedeiros, para se proteger, buscam estabelecer uma política industrial que busque minimizar os aspectos negativos da presença das empresas multinacionais em seu território.


Referências bibliográficas


GILPIN, Robert. A Economia Política das Relações Internacionais. Brasília: Ed. UnB, 2002.

GUEDES, Ana Lúcia. Repensando a nacionalidade das empresas transnacionais. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 14, p. 51-60, jun. 2000.

IGNÁCIO, Edílson Antônio; SILVA, Gibson Zucca da. Contrições sobre o relacionamento entre as empresas multinacionais e as nações-estado. Revista de Ciências Gerenciais da Anhanguera Educacional, v. 11, n. 13, 2007.

JACKSON, Robert; SORENSEN, George. Introdução às Relações Internacionais. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

GONÇALVES, Reinaldo. Economia Política Internacional: fundamentos teóricos e as relações internacionais do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

Um comentário:

  1. Angelica, muito obrigada por partilhar esse artigo tao interessante. Voce me deu a luz que eu precisava. Sou estudante de Relacoes Internacionais e Desenvolvimento em Mocambique - Mestrado, sendo que a minha 1a fgraduacao for em Historia. Dai que estou adororando o seu blog...parabens. Se voce estiver disponivel gostaria de talvez interagir um pouco mais com voce sobre esta tematica ...Multinacionais versus Desenvolvimento e papel dos Estados nos paises em Desenvolvimento..
    Obrigada e meu email e': shaista.araujo@gmail.com

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