Impacto das Multinacionais no Estado
Introdução
As empresas multinacionais são atores de grande importância nas relações
internacionais contemporâneas. Isso se
deve ao seu poder econômico, tecnológico e conseqüentemente político. Sua força está no seu papel na
internacionalização da economia contemporânea por meio da produção e
comercialização de diversos bens e serviços em diferentes países de forma
dinâmica e integrada.
Inevitavelmente, a força das multinacionais gera forte impacto, e por
vezes ameaça, aos Estados, em especial os periféricos. O poder e capital de algumas empresas
multinacionais no contexto internacional é, por vezes, maior de muitos Estados
periféricos. Entretanto, em diversos
contextos a atuação das multinacionais é benéfica devido ao seu poder de gerar empregos,
produzir e difundir tecnologia, movimentar a economia com dinamismo, produção
de bens e serviços importantes para a sociedade como um todo.
O presente trabalho pretende fazer uma análise da relação entre as
empresas multinacionais e os Estados nacionais.
Serão analisados os diversos enfoques teóricos existentes para a
questão.
Desenvolvimento
As empresas multinacionais são vistas por alguns, como instituições
positivas que vão além dos Estados nacionais, difundem a tecnologia e o
desenvolvimento entre países em desenvolvimento e geram uma rede de
interdependência entre os países. Outros,
por sua vez, consideram que as empresas multinacionais são predadoras
imperialistas e geram uma rede de dependência política e subdesenvolvimento por
onde passam.
As empresas multinacionais são atores com grande alcance por operarem em
escala global. Esses grupos ou tipo de
empresa operam em pelo menos dois países e controlam uma quantidade relevante
de ativos específicos (tecnologia, capital, capacidade gerencial, organização, mercadologia,
entre outros) que são recursos importantes de poder econômico e político. Trata-se, aqui, tanto das empresas que operam
no setor industrial, no de serviços, no setor primário, no setor financeiro como
os bancos e outras instituições financeiras não-bancárias. As empresas multinacionais são negócios com orientação
capitalista que buscam se redirecionar visando ao aproveitamento das melhores
oportunidades existentes no mercado global.
Apesar dos temores e das esperanças as empresas multinacionais cada vez
crescem mais. Algumas dessas empresas
são instituições extremamente poderosas com recursos superiores à maioria dos
Estados que compõe as Nações Unidas. Elas
integram a economia internacional de forma extensa, geram integração da
economia global e também interdependência comercial e financeira entre os Estados.
As empresas multinacionais são de grande
relevância para sociedade e conseqüentemente para os Estados. As multinacionais possibilitam a geração de
emprego, desenvolvimento de tecnologia, crescimento econômico, investimentos,
“existe muito pouca dúvida sobre a importância dos
investimentos das empresas multinacionais no processo de geração de riquezas
das nações-estado, como também do papel das nações-estado no sentido de
oferecer infra-estrutura social e física para que os objetivos estratégicos das
empresas multinacionais possam ser alcançados com sucesso. O grau de dependência das empresas
multinacionais nas políticas econômica das nações-estado pode ser visto como o
resultado da combinação dos seguintes fatores: localização geográfica, acesso
aos recursos naturais, tecnológicos e financeiros e relacionamento entre as
políticas internas e externas dos países destino e origem dos investimentos.”
(IGNÁCIO, 2007)
Segundo Gonçalves (2005) na história das relações internacionais há
vários exemplos de relações estreitas entre empresas multinacionais e seus
Estados de origem. Essas relações
significam que os Estados usam essas empresas como instrumento de influência
econômica para que venha alcançar objetivos políticos. As empresas, por sua vez, usam o Estado-nação,
como instrumento político (inclusive militar) para atingir determinados
interesses econômicos como o controle das fontes de matéria prima. Dessa forma, o Estado usa um instrumento
privado para alcançar um objetivo de interesse público, enquanto a empresa
multinacional usa um instrumento público para atingir um interesse privado. Essa relação não se restringe há setores que
têm alguma relevância estratégica, como o petróleo, mas é particularmente
evidente nesses setores. Os Estados mais
desenvolvidos industrial e tecnologicamente conseguem se reorganizar para lidar
com as vantagens tecnológicas e econômicas das empresas multinacionais.
Há diversas abordagens teóricas de buscam explicarem o fenômeno da
expansão das empresas multinacionais, mas nenhuma consegue explicar de forma
completa.
Quanto à natureza oligopolista das multinacionais duas teorias se
destacam. A primeira é a teoria do ciclo
do produto desenvolvida por Raymond Vernon. Esta teoria busca explicar o motivo pelo qual um
novo produto surge especificamente num determinado país, e que fatores
contribuem para que, após esse produto atingir certo grau de desenvolvimento, a
empresa que o produz tenda paulatinamente a localizar sua produção em outros países
que não o de origem. Assim, há em toda
parte instalação de fábricas para produzir o mesmo produto. Segundo a teoria do
ciclo do produto o investimento é integrado horizontalmente. A segunda é a teoria da organização industrial
baseada na integração vertical. Essa
teoria se aplica ao novo multinacionalismo onde os investimentos são
verticalmente integrados, ou seja, a produção em algumas fábricas que serve de
insumo para outras fábricas da mesma empresa. (GILPIN, 2002)
O crescimento das multinacionais de forma vertical tem obtido mais
sucesso devido a três fatores. Primeiramente, a integração vertical das
diversas fases do negócio possibilita a redução os custos envolvidos no
processo produtivo. As empresas buscam
manter todos os aspectos da produção sobre seu controle. Em segundo lugar, devido aos crescentes custos
necessários a pesquisa e desenvolvimento as empresas buscam manter sobre o seu
controle, por maior tempo possível, o monopólio na produção itens por elas desenvolvidos.
Em terceiro lugar, devido à melhoria dos transportes e das
comunicações é possível a expansão dos
negócios para outros países distantes. Essa expansão leva ao predomínio de
oligopólios da economia internacional nas economias nacionais por meio da
formação de uma rede empresarial complexa e sofisticada. A estratégia de integração vertical das
empresas multinacionais consiste em distribuir as fases da produção em diversos
países. Essa estratégia visa aproveitar
os custos de produção mais baixos e benefícios fiscais disponível nos países de
industrialização recente. Dessa forma,
cresce o comércio intrafirma. (GILPIN, 2002)
O crescimento vertical pode representar
problemas aos países
hospedeiros, uma vez
que, abre-se a possibilidade dos Estados nacionais usarem
suas multinacionais para realizar seus objetivos de política externa. Muitos setores da sociedade, como os
sindicatos, consideram que o investimento externo direito como uma ameaça aos
seus interesses. Os países hospedeiros
também temem que a atuação das empresas multinacionais possa ser prejudicial a
seus próprios interesses econômicos, políticos ou de qualquer outra natureza.
O choque entre as empresas multinacionais e os países hospedeiros tem
sido mais intenso nas economias desenvolvidas. Críticos individuais e autoridades nacionais
têm apresentado acusações contra a conduta das empresas internacionais,
apresentam sua atuação como negativa aos interesses, ao bem-estar econômico e
ao desenvolvimento do Estado hospedeiro.
As acusações levantadas contra as empresas multinacionais recaem sobre
diversas categorias. No ponto de vista
econômico, os investimentos diretos estrangeiros são vistos como instrumento de
distorção da economia e da natureza do desenvolvimento econômico dos países
periféricos. Alega-se que as
multinacionais geram um desenvolvimento dependente, que não possibilita o
desenvolvimento local. As empresas
multinacionais também são acusadas de inibir o desenvolvimento de tecnologia
nacional. Por serem incisivas em capital
e tecnologia, as multinacionais geram desemprego e não possibilitam a
transferência de tecnologia aos países menos desenvolvidos. Além disso, muitos afirmam que o investimento
direto estrangeiro agrava a má distribuição de renda e inibe o crescimento do
empresariado local.
No ponto de vista político, as empresas multinacionais exigem dos
governos locais, simpáticos ao capitalismo, o desenvolvimento dependente que
estimula a criação de aliança entre o capitalismo internacional e as elites
nacionais reacionárias. Dessa forma, os governos têm de ceder às exigências das
multinacionais. No ponto de vista
cultural, a herança cultural das empresas estrangeiras se caracteriza por uma
forma de imperialismo cultural, na qual os países em desenvolvimento perdem
controle sobre a própria identidade cultural. As empresas estrangeiras introduzem, por meio
de publicidade, novos valores e demanda por novos produtos diferentes aos da
cultura local.
O novo multinacionalismo
No ponto de vista do novo multinacionalismo o regime dos investimentos
dos internacionais está sendo moldado
por negociações entre empresas individuais, governos de origem e governos
hospedeiros. O resultado dessa interação
é uma estrutura complexa de relações entre as empresas e os governos que
projeta para o futuro um novo tipo de relação.
A disputa entre os países por pelo capital e tecnologia é intensa. Os
países menos desenvolvidos buscam diferenciar-se cada vez mais na sua
capacidade de atrair investimentos estrangeiros. A instabilidade política e
econômica levou as multinacionais a diversificarem seus investimentos. A
relutância cada maior dos banqueiros em emprestar aos países subdesenvolvidos
devido as suas dívidas acumuladas. Com isso acentua-se a tendência de
desenvolvimento desigual o que levou muitos países a recusar o acesso das
multinacionais.
Nesse contexto, podemos observar algumas tendências: crescente
importância dos investimentos diretos estrangeiros em especial os “verticais”
(a produção é dividida por diversos países); expansão das alianças entre
empresas de diferentes países; e importância dos intermediários fabricados de
outros países. As empresas multinacionais passam a produzir-nos de
industrialização recente devido as barriras tarifárias dos países avançados.
A racionalização global da produção internacional atribuiu importância
crescente às alianças entre as multinacionais e os suprimentos estrangeiros. O
papel dos países de industrialização recente cresce no processo de
internacionalização da produção por meio de diversos mecanismos.
Os teóricos vêem o impacto das empresas multinacionais dos paises
periféricos de diferentes perspectivas. Os
liberais, em geral, vêem as empresas multinacionais como uma forma de levar o
crescimento econômico aos países periféricos. A teoria da dependência, por sua vez, vê as
empresas multinacionais como algo negativo. Para os mercantilistas modernos o investimento
direto estrangeiro realizado pelas empresas multinacionais pode ser uma forte
fator modernizados, mas depende do contrapeso da indústria local e da
supervisão do governo hospedeiro. (JACKSON, 2007)
Considerações Finais
As empresas multinacionais são atores de grande importância no contexto
das relações internacionais e das economias nacionais. Essas empresas atuam dentro da lógica
capitalista e buscam maximizar o seu lucro por meio da internacionalização,
buscam se estabelecer em países que lhes fornece maiores incentivos e isenções
fiscais. Com isso, gera-se uma realidade
na qual os Estados devem buscar conduzir de forma a obter maiores benefícios.
Há muito receio de que as empresas multinacionais venham a diminuir o
poder dos Estados e, por vezes, venham a ameaçar a sua sobre vivência. Embora esse perigo seja real, a existência das
multinacionais cada vez se consolida mais. Os Estados hospedeiros, para se proteger, buscam
estabelecer uma política industrial que busque minimizar os aspectos negativos
da presença das empresas multinacionais em seu território.
Referências bibliográficas
GILPIN, Robert. A
Economia Política das Relações Internacionais. Brasília: Ed. UnB, 2002.
GUEDES, Ana Lúcia. Repensando a nacionalidade das empresas
transnacionais. Rev. Sociol. Polít.,
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IGNÁCIO, Edílson Antônio; SILVA, Gibson Zucca da. Contrições
sobre o relacionamento entre as empresas multinacionais e as nações-estado. Revista de Ciências Gerenciais da
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JACKSON, Robert; SORENSEN, George. Introdução às Relações Internacionais. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
GONÇALVES, Reinaldo. Economia
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do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.